Flora de Restinga - Restinga Net

Apresentação

O Brasil possui um litoral extremamente diversificado em termos oceanográficos, climáticos e geomorfológicos e foi dividido por Silveira (1964) em cinco compartimentos, desde o litoral do Amapá ao Rio Grande do Sul: Litoral Amazônico, Litoral Nordestino de Barreiras, Litoral Oriental, Litoral Sudeste ou de Escarpas Cristalinas e Litoral Meridional ou Subtropical. É uma divisão bem aceita por pesquisadores, embora os limites não seja consensuais (Tessler & Goya 2005). A região litorânea dos estados de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Espírito Santo (ES), uma das mais diversificadas da costa brasileira, está situada na transição entre os compartimentos Oriental (de Salvador a Cabo Frio) e Sudeste ou das Escarpas Cristalinas (de Cabo Frio ao Cabo de Santa Marta).

De sul para norte o litoral de SP se inicia na Barra do canal de Ararapira, na divisa com o estado do Paraná, no Município de Cananéia. A partir da Ilha do Cardoso, uma extensa planície costeira se estende até a baixada santista, só interrompida em alguns pontos seja por rios (Ribeira do Iguape, Una, entre outros) ou por afloramentos e montanhas que atingem o mar. Já no litoral norte as áreas de restingas são muito pouco expressivas e aparecem em manchas nos municípios de São Sebastião, Caraguatabuba e Ubatuba (Souza et al 2008), justamente onde a Serra do Mar chega muito próximo ao mar e se prolonga até Angra dos Reis (RJ).

No RJ o litoral varia da recortada e escarpada parte sul entre Paraty e Mangaratiba, onde as restingas são pouco expressivas em meio a um alto índice pluviométrico, até a extensa planície arenosa do delta do Rio Paraíba do Sul. Essas se estendem desde Macaé ao municípios de São Francisco do Itabapoana onde as restingas e uma série de lagoas costeiras dominam a paisagem. Entre esses extremos a região de Cabo Frio, onde também lagoas costeiras e restingas marcam a paisagem, poucos rios desaguam no mar e um baixíssimo índice pluviométrico associado a outros fatores, possibilita a existência de campos de dunas, raros no sudeste do Brasil.

Já no litoral sul do ES existem dispersos afloramentos do embasamento cristalino desde Marataízes até a baía de Vitória, alguns trechos de falésias da formação barreiras e diversos rios desaguam nesse trecho dominado por restingas em pequenas enseadas, sendo os rios Itabapoana (na divisa com o RJ), Itapemirim e Jucu os mais importantes. Da baía de Vitória ao litoral norte são dispersas as áreas de tabuleiros terciários (formação barreiras) que ladeiam as restingas na sua parte mais interna e chegam ao mar próximo à divisa com o Estado da Bahia, já em Mucuri. Neste setor, o Rio Doce é, marcante na paisagem como um importante construtor de planícies costeiras em delta, além dele destacam-se os Rios São Mateus e Itaúnas.

A riqueza da flora desse trecho litorâneo se reflete na diversidade de habitats criados por esta diversidade climática e geomorfológica. A lista básica das restingas do RJ e ES foi publicada por Pereira & Araújo (2000) com 1378 espécies de angiospermas, e foi sendo atualizada periodicamente na própria página partir de novas determinações realizadas por especialistas chegando a 1598 espécies, incluindo plantas vasculares. Com a finalização da Flora do Brasil e de um banco de dados sobre a flora das restingas do Brasil criado por Sá & Araújo (Dados não publicados) há mais de 10 anos, estamos nos preparando para incluir informações atualizadas sobre a flora vascular das restingas do Brasil. Atualizamos aqui neste momento apenas a lista de angiospermas do Estado do Rio de Janeiro com 1592 espécies, que sozinha representa um acréscimo de 15% de espécies aos números apresentados por Pereira & Araújo (2000) para os 1548 km de litoral dos dois estados. Brevemente incluiremos os dados dos estados de São Paulo e Espírito Santo, concluindo assim a região sudeste e posteriormente todo o litoral brasileiro.

Referências:

  • Pereira, O.J. & Araújo, D. S. D. 2000. Análise florística das restingas dos Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. In: Esteves, F.A. & Lacerda, L.D. (eds.). Ecologia de Restingas e Lagoas Costeiras. Rio de Janeiro, NUPEM/ UFRJ, p. 25-63.

  • Silveira, J.D. 1964. Morfologia do litoral. In: Azevedo, A. (ed). Brasil: a terra e o homem. Companhia Editora Nacional, São Paulo. Vol. 1: 253-305.

  • Souza, C.R.G.; Hiruma, S.T.; Sallun, A.E.M.; Ribeiro, R.R.; Azevedo Sobrinho, J.M. "Restinga": Conceitos e empregos do termo no Brasil e implicações na legislação ambiental. São Paulo, Instituto Geológico, 2008. 104p.

  • Tessler, M.G. & Goya, S.C. 2005. Processos costeiros condicionantes do litoral brasileiro. Revista do Departamento de Geografia 17:11-23.